Li recentemente um texto aqui no LinkedIn dizendo que Walther Salles comparava o roteiro audiovisual à argamassa. E ele tem razão, assim como a argamassa é essencial para dar estrutura e estabilidade a um prédio, o roteiro é a base que organiza e conecta todos os elementos de uma produção audiovisual.

E quando falamos em roteiro, não nos referimos apenas ao ato de escrevê-lo, mas ao desenvolvimento do todo: da ideia inicial à logline, do storyline à construção dos perfis dos personagens, passando até pela lista de cenários. Roteiristas como Ana Maria Moretzsohn, Patrícia Moretzsohn, Margareth Boury, Celso Taddei, são exemplos de roteiristas que compreendem essa complexidade e trabalham cada etapa com profundidade.

Doc Comparato, em seu livro Da Criação ao Roteiro, afirma: “sem material escrito, não se pode dizer nada”. Sem um bom roteiro, não há audiovisual. Assim como a argamassa sustenta uma construção, o roteiro estrutura personagens, enredo, diálogos e clímax. Sem ele, a produção se torna instável. José Ignácio Valenzuela, roteirista de várias novelas e da série Quem matou Sara? da Netflix, em seu livro Taller Práctico de Escritura de Telenovela (Oficina Prática de Escrita de Telenovela), reforça: o roteiro é a medula que sustenta cada programa televisivo.

Depois que o prédio está pronto, a argamassa desaparece, mas ainda está lá, sustentando a estrutura. O mesmo acontece com o roteiro. Depois que o filme é exibido, o público não vê mais o roteiro, mas ele continua a sendo a base que sustenta toda a produção. Como a argamassa, o roteiro não é o elemento visível ou perceptível no produto final, mas é fundamental para garantir que tudo se encaixe e funcione. Até a Bíblia diz: "No princípio era o Verbo", e o Verbo era a palavra. A palavra, no contexto audiovisual, é o roteiro, que dá início à criação de tudo o que será mostrado ao público.

O segredo de uma boa produção, também está nos personagens que o roteirista cria. Quando bem fundamentados e cativantes, se tornam parte da vida do telespectador. Personagens bem construídos podem manter uma história viva por longos períodos. Mesmo em novelas de 200 capítulos, se os personagens são envolventes, o público se apega a eles, torce por suas vitórias, chora com suas perdas e acompanha ansiosamente sua jornada.

Ouvimos que as novelas precisam ser curtas, mas a verdade é que uma boa história e personagens sólidos podem fazer com que uma trama se estenda sem perder a qualidade. E as séries? Temos exemplos como Grey's Anatomy, que ultrapassou os limites de uma série convencional e se transformou em uma "soap opera" americana, com temporadas intermináveis. Mas por que continuam produzindo? Porque ainda tem fôlego. E esse fôlego vem dos personagens que continuam cativando o público, trazendo histórias novas e emocionantes. O segredo não está apenas na estrutura, mas na evolução constante dos personagens., vamos investir no roteiro?

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